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Dilúvio de livros "Espíritas" Delirantes”[1]

Jorge Hessen


Como (re)agir diante dos livros antidoutrinários, supostamente “mediúnicos”, que invadem as instituições espíritas, colonizando turbas de ingênuos adeptos? Há pseudomédiuns, sem qualquer compromisso com o Espiritismo, que agem quais livres atiradores, e paradoxalmente “suas obras são vendidas nos Centros Espíritas, porque vendem muito, mas o tempo que se consome lendo seus livros é um desvio do tempo de aprendizagem da Doutrina Espírita.”[2]
Possivelmente seja perda de tempo acercar-nos desse cansativo tema. Todavia, acreditamos que sob o pálio do velho adágio “cautela e caldo de legumes não fazem mal a ninguém”, a questão pode ser abordada de forma menos complicada. Antes, porém, reafirmamos tudo o que já registramos muitas vezes na imprensa: os livros insalubres não devem ser comercializados nas livrarias de uma instituição espírita! Nem mesmo em nome da surrada cantilena “liberdade de expressão”. “Não faz nenhum sentido as instituições continuarem comprando essa literatura [infausta]. Deveriam fazer a barreira de obstrução mesmo sem brigar com ninguém, até porque somos espíritas e é urgente saber o que é um livro genuinamente espírita.”[3]
Raul Teixeira explana o seguinte: “quanto mais descomprometido com a Doutrina Espírita é o ‘livrinho’ ou o ‘romancinho’, mais o povo gosta. Somos responsáveis por essa chuva de lodo sobre a nossa literatura espírita que dá lucros exorbitantes. Muitos clubes do livro [com honrosas ressalvas] não respeitam a Doutrina Espírita e normalmente colocam mensalmente um livrinho “baratinho” para cobrar mais caro e terem altos lucros sobre os seus assinantes.”[4]
Atualmente são vendidos a rodo esses destroços literários. “É preciso frear a entrada dessas obras nas instituições. Que os editores vendam onde quiserem, menos no centro espírita. É muito importante os espíritas assumirem posição. Nunca será falta de caridade denunciar o mal. Falta de caridade é nossa omissão ante a disseminação do mal através dos livros. Não podemos entrar na falácia de que o mal é querer o bem.”[5] .
Há obstinados gênios das trevas divulgando “pérolas azuis” do tipo “o mundo espiritual é uma cópia do mundo físico e não o contrário”; “a mulher desencarnada sofre fluxos menstruais”; “os Espíritos vão ao banheiro e dão descarga”, “instrutor espiritual conta piadas pornográficas”, “mentor descreve com minúcias as curvas sensuais de jovem desencarnada”, “mentor endossa o aborto de anencéfalos”. É chocante! Nessa invasão “mediúnica” enunciam “que existem relacionamentos sexuais para promoção de ‘reencarnação’ no Além”. Ah!, por falar em reencarnação, tais livros revelam as várias “reencarnações” de Allan Kardec, culminando por encontrar o mestre de Lyon imerso num corpo (re)nascido em Pedro Leopoldo. Seria patético se não fosse burlesco, ou o avesso?! Seria cômico se não fosse trágico.
Garante tal literatura que “as pretas e pretos velhos, caboclos e correlatos, são entronizados como mentores de instituições espíritas.” Óbvio que as tradições das práticas mediúnicas africanas e ameríndias não padecem de discriminação entre os espíritas estudiosos, nem avaliamos os Espíritos de índios e negros, de todo, involuídos, todavia, ignorantes. Sim! Porque se fossem mais conscientes ou se não fossem ignorantes, não algemariam a mente em atavismos exóticos de personagens do pretérito. Estamos diante de delírio e de extrema fascinação no movimento espírita doutrinário.
Os dirigentes não utilizam de forma criteriosa as barreiras para seleção doutrinária dos livros expostos ao público! Afirma Divaldo Franco que “o pudor em torno do Índex Expurgatorius da Igreja Romana tem levado muitos líderes a uma tolerância conivente [contemporização].”[6] As instituições espíritas [inclusive algumas federativas], “por interesse puramente comercial, vendem quaisquer livros “psicografados”, de autoajuda, de esoterismo, de outras doutrinas, quando deveriam preocupar-se em divulgar as obras do Espiritismo, tendo um critério de lógica.”[7]
Temos observado que sob o lábaro da “liberdade cultural” há os que pugnam pelo não expurgo dos livros antidoutrinários nas prateleiras das nossas bibliotecas espíritas, desde que haja na página inicial dessas obras (avaliadas como lesivas ao programa da Codificação), sumários de análise e sugestão para a leitura de obras com contextos adversos. Interessante esse método, sem dúvida, mas cremos que o ingresso dos espíritas (menos precavidos), deve ser irrestrito tão somente nas bibliotecas que se balizem exclusivamente nas obras doutrinariamente irrefutáveis.
Logicamente, sem obrigação de pelejar com os desfavoráveis a restrições, podemos aceitar a catalogação dos atuais “entulhos-literários” e destiná-los a espaços de leitura apenas frequentados por espíritas conscienciosos e pesquisadores honestos, capazes de analisar com lucidez os conteúdos das obras. Somos partidários do ideário de “que as instituições espíritas deveriam ter uma comissão para analisar e avaliar a qualidade do livro e divulgá-los ou não, porquanto as pessoas incautas ou desconhecedoras do Espiritismo fascinam-se com ideias verdadeiramente absurdas.[8] Destarte, é importantíssimo “montar a barreira natural do exame [dos livros] consoante recomenda Kardec, até porque não se trata de reconstrução do arrepiante Índex Librorum Prohibitorum.”[9]
Se a biblioteca for acessível a qualquer pessoa, é urgente toda precaução, pois quanto maior nível de ignorância do ledor, importância máxima dará a “segurança” oferecida pela instituição ao livro a que ele tem livre acesso para leitura. Infelizmente, para os calouros e/ou incautos, o que é oferecido pelo centro espírita é interpretado como válido, fidedigno e doutrinariamente correto. Eis aí o “deus-nos-acuda” instalado! Cremos que “mesmo sem atracar com ninguém é imperioso defender o território [instituição espírita], porque quem compra [ou toma emprestada] uma obra de má qualidade no centro, sai declarando que aquela obra é espírita, pois foi adquirida no centro. Se um centro espírita comercializa uma obra de má qualidade é porque esse centro também é de má qualidade.”[10]
Sobre as bibliotecas espíritas, concordamos que as mesmas devem ser locais “intocáveis”. Porém, não há como comparar a liberalidade de uma biblioteca mundana (descompromissada com a Terceira Revelação) com uma biblioteca espírita. Nada mais desigual! Os desígnios são completamente diferentes. A primeira prima por arquivar, conservar e oferecer informações para desenvolvimento da cultura ordinária. A biblioteca espírita, entretanto, deve ser ambiente intocável, e muito mais do que isso, deve ser um templo abençoado para abrigar as obras ajuizadas e consagradas universalmente pelos Benfeitores Espirituais. A primeira propõe aclarar o intelecto, mas a segunda necessita alumiar a mente e potencializar o coração do homem.
Não podemos permitir que as instituições espíritas sejam transformadas em picadeiros, inobstante seja a “comédia o inverso da tragédia”[11], porém, na retaguarda do malfeitor campeia o bufão (protagonista do circo), e “os falsos devotos têm por acólitos seres ineptos, que só agem por imitação: à maneira dos espelhos, refletem a fisionomia de seus vizinhos. Tomam-se a sério, enganam-se a si próprios; a timidez os faz zombar daquilo em que não acreditam, exaltam o que duvidam, comungam com ostentação e acendem às escondidas pequenas velas, às quais atribuem muito mais virtude do que a transformação moral.”[12]
Os espíritas desleais são os verdadeiros descrentes da equidade, da esperança, da Natureza e de Deus; recusam o bom senso e afiançam o fanatismo. A desencarnação, porém, os arrastará encharcados de águas de cheiro e cobertos de ouropéis, que hoje os disfarçam entre os homens.
Pelo exposto, é inadmissível ficarmos temerosos de sermos classificados de anacrônicos, conservadores ou até mesmo clericais. Depende de todos nós melhorar a qualidade das práticas doutrinárias e cada qual deve fazer a sua parte. É importante sermos inexoráveis para blindar ininterruptamente a Doutrina Espírita contra os títeres das trevas (conhecidos como falsos profetas da atualidade), que tapeiam quais concessionários das Trevas. Contra eles devemos nos insurgir, a fim de expor o Espiritismo como Doutrina ajuizada, sublime e incorruptível.





[2] Divaldo P. Franco, http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2013/02/opiniao-do-divaldo-franco-sobre.html , acessado em 24/02/2013
[3] Raul Teixeira http://tanialeimig-espiritismo.blogspot.com.br/search?updated-min=2013-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2014-01-01T00:00:00-08:00&max-results=4 , acessado em 23/02/2013
[4] Idem
[5] Idem
[6] Divaldo P. Franco, http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2013/02/opiniao-do-divaldo-franco-sobre.html, acessado em 24/02/2013
[7] Idem
[8] Idem
[9] Raul Teixeira http://tanialeimig-espiritismo.blogspot.com.br/search?updated-min=2013-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2014-01-01T00:00:00-08:00&max-results=4, acessado em 23/02/2013
[10] Idem
[11] Kardec, Allan. Revista Espirita/outubro de 1863 , mensagem ditada pelo Espírito Delphine de Girardin, disponível em http://www.sistemas.febnet.org.br/site/indiceGeralDeRevistas/verArtigo.php?CodArtigo=575&Palavra=B%EDblia ,   acessado em 25/02/2013.
[12] Idem

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